JÓ – Conheça a sua Bíblia – Editado

Por Júlio Andrade Ferreira 
Jó (Jó l - 42)
O Problema do Sofrimento
O grande problema do livro de Jó, o problema do sofrimento, é o drama de todo o ser humano.
Não há vida neste mundo que decorra sem sofrimento. Dura realidade, mas é realidade da qual se pode tirar grande lição de ordem espiritual.

Jó Submetido à Prova
A primeira parte do livro de Jó é um contraste entre prosperidade e provação.
Deus permite que o justo seja provado.
Apresenta-se Jó com um bom caráter e uma família unida e amiga, propriedades e prosperidade.
Poder-se-ia dizer: "Eis aí o homem feliz". A esta altura. Satanás, chegando a uma assembléia celestial, disse que Jó era justo porque não era provado.
Deus lhe permite submeter Jó à provação da pobreza, depois à da enfermidade, depois à do isolamento.
Por maiores que sejam as forças do mal, porém, não são maiores que as forças divinas.
As provações de nossa existência não estão fora da alçada divina.
Jó perdeu o que tinha: família, riqueza, saúde.
O maior perigo é não ter a companhia de Deus quando estamos isolados dos homens.
Jó revela confiança em Deus, mesmo nessa circunstância.



Os Amigos de Jó
Aparecem três supostos amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar.
Estes trazem explicações humanas para o problema da dor que Jó estava enfrentando.
Mas Jó estava dentro da experiência da própria dor. Lembramo-nos de uma frase interessante de Machado de Assis: "Sofre-se com muita paciência a cólica alheia".
Há contraste entre explicações humanas do grande problema e a experiência do problema. Jó estava experimentando em toda a sua amplitude o sofrimento; os outros estavam trazendo especulações...

As Respostas dos Amigos
Vamos analisar três expressões da filosofia e sabedoria humanas.

Elifaz – A Voz da Experiência
Elifaz, o temanita: - É a voz da experiência. Suas palavras são registradas nos capítulos 5, 15, 22. Veja-se Jó 15.10. O que diz este texto indicado? É a voz da experiência.
A alegação de Elifaz é de que ele podia dar uma palavra acerca do sofrimento porque estava transmitindo a voz dos velhos.
O que é que a experiência diz? O sofrimento é inevitável.
Temos de suportá-lo. Grande consolo!
Como que dizia a Jó: "Você se queixa porque chegou a sua vez. Mas tem chegado a vez dos outros. Você não deve queixar-se tanto. O sofrimento é inevitável.
Queres ser o único a evitá-lo? "E Jó responde: "Eu sei disso. Mas é que eu estou sofrendo! Eu sei que todo o mundo sofre, sei que isto é a experiência da Humanidade, mas o difícil é o meu sofrimento".
Quando alguém nos pergunta qual é a maior dor, devíamos responder que a pior é aquela pela qual nós estamos passando. Não há outra pior.

Bildade – A Voz da Sabedoria Humana
Bildade o suíta, conforme o registro dos capítulos 8, 18 e 25, reflete a voz da sabedoria humana. Isto é, aqui não há observação de que todo mundo sofre.
Há desejo de descobrir a causa do sofrimento: o máximo que o homem pode descobrir, em sua condição humana, é que o sofrimento está ligado ao pecado.
Se o sofrimento é consequência do pecado, então quem não tiver pecado, não terá sofrimento. Quem não está sofrendo não está pecando. Quem sofre é porque pecou.
Que o pecado causa sofrimento não há dúvida. É verdade; e tanto é verdade, que o ensino bíblico não contesta a sabedoria natural quando chega a essa conclusão.
O erro de Bildade e da sabedoria humana não é dizer que o pecado traz sofrimento. É pensar que nós podemos medir o pecado pelo sofrimento.
Não é por ver uma pessoa sofrendo mais do que outra, que vamos tê-la por mais pecadora. Sofrimento traz pecado, mas a proporção, num certo traço da experiência, não é tal que possamos medir pecado por meio de sofrimento.
A conclusão de Bildade fora que Jó, com certeza, tinha cometido pecado tremendo, porque estava sofrendo tremendamente. A transição do estado de prosperidade de Jó para o estado de sofrimento devia explicar-se necessariamente por um certo pecado.
Esta conclusão é uma conclusão errada da sabedoria humana. Jó responde: "Eu sei disso, que pecado traz sofrimento. Mas tenho consciência de que não houve um pecado especial para explicar minha situação".
Notemos que Jó não estava dizendo que não tinha pecado nenhum. Ele dizia que não tinha cometido certo pecado que explicasse, pura e simplesmente, aquele sofrimento.

Zofar – A Voz da Intolerância
Passemos a Zofar, o naamatita. Os registros estão nos capítulos 11 e 20.
É a voz da intolerância.
Zofar, além de não explicar nada, acrescentava dor a Jó.
Como se não bastasse ter perdido propriedades, ter perdido saúde, ter perdido família e o círculo de amigos, ainda vinha esse irreverente para zombar dele.
Sobre tudo aquilo ainda trazia a dor de impiedosa observação: "Por que zombas de Deus?". "Queres ocultar de Deus a realidade?". "Poderias ocultar o pecado?".
O primeiro diz: "Você precisa sofrer".
O outro diz: "Você está sofrendo porque você é um grande pecador".
O terceiro diz: "Você, além de ser um grande pecador, ainda está procurando esconder seu erro".
Jó responde:
"Sei disso. De Deus nada se esconde! Mas não vejo nenhuma diferença entre mim e vocês".
Visto que estavam achando ser Jó um grande pecador e malandro, por esconder o pecado, ele replica: "A mesma opinião tenho de vocês. Vocês também são pecadores, porque diante dos olhos de Deus quem é justo é pecador. Aquele que é justo diante dos homens, diante de Deus não tem justiça.
O que vocês estão falando, aplica-se a mim, é verdade; mas, aplica-se a vocês também". E conclui: "Vós sois consoladores molestos". Diz mais: "Eu quero me defender diante de Deus, porque diante dos homens não tenho mais esperança nenhuma".

Eliú – A Voz da Juventude
Estava ele nesse extremo, quando entra a voz de Eliú - Cap. 32.
Eliú, filho de Baraquel, era mais moço que os outros e aguardava o silêncio dos amigos. Os dois primeiros falaram três vezes, o último ralara duas vezes. Depois não tinham nada mais a falar. Jó já replicara.
Entra Eliú, que aguardava os acontecimentos. Entra com arrogância... O Cap. 32 mostra que ele estava repreendendo os amigos, porque não tinham resposta para Jó. Repreendia Jó, porque parecia este invocar uma justiça própria (Afinal de contas, este em suas respostas, excedera-se mesmo!).
Eliú caçoa dos amigos e caçoa de Jó. Cap. 32.5 - Vendo, pois, Eliú de que não havia resposta na boca daqueles três homens, acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel e disse: "Eu sou de menos idade e vós sois idosos. Arreceei-me e temi declarar-vos a minha opinião. Dizia eu: Falem os dias, a multidão de anos ensina a sabedoria. Eis que ouvi as vossas palavras e eis que dei ouvidos às vossas considerações, até que buscásseis razões".
Mas qual é a palavra dele, Eliú? A palavra dele é a máxima a que pode chegar o ser humano.
Chegou à conclusão: "Ao Todo-Poderoso não podemos alcançar".
Há razões que superam as nossas razões. Não vemos por que se apresentar com tanta zombaria. Jó também chegara a esta conclusão.
É que o problema da dor, humanamente, não tem solução.
O sofrimento do justo é um problema que, racionalmente, não tem explicação.
Mas, no livro de Jó, entra um elemento novo: Deus. Para uma pessoa incrédula o sofrimento não tem solução.
Mas, para o crente. Deus entra na trama da vida.

A Intervenção Divina
Desde o capítulo 38 em diante temos a última parte do livro. É a fase final. O Senhor, num rodamoinho, entra no palco da História, e diz: "Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Cinge os teus lombos e perguntar-te-ei e tu, responde-me: Onde estavas tu, quando fundei a terra? Faze-me saber, se tens inteligência?"
É dos capítulos mais lindos da Bíblia e de toda a literatura. Deus mostra a grandeza do Seu poder, através das obras da Natureza.
 "Quem lhe pôs as medidas, se tu sabes? Ou quem estendeu sobre elas o céu? Sobre que estão fundadas suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina?" "Quem encerrou o mar com portas, quando transbordou e saiu da madre; quando pus as nuvens por sua vestidura e a escuridão por envolvedouro?".
Deus vai mostrando as obras maravilhosas da própria natureza. Nós que nos encontramos como pequenos seres dentro deste teatro natural, pensamos que somos os senhores e que temos explicação para tudo.
Deus prefere que cheguemos a reconhecer nossa insignificância. Quem é grande é Ele mesmo, que tudo fez!
Visto que Deus se apresentou com toda a Sua grandiosidade, Jó sentiu toda a sua pequenez e no cap. 40 diz: "Eis que sou vil, que te responderia eu? A minha mão ponho na minha boca. Uma vez tenho falado, porém não replicarei. E ainda duas vezes, porém, não prosseguirei". Então o Senhor respondeu a Jó...
A segunda interpelação divina é diferente. Se na 1a mostra a grandeza natural, na 2a põe ao vivo a seguinte pergunta: "Quem se atreve a vir a Deus. Quem?" Mostra que nenhuma das Suas criaturas, nem mesmo o homem, deve querer ocupar o Seu lugar.
O homem não pode deixar de reconhecer a sua insignificância. Não há riqueza que garanta a nossa felicidade, não há família que preserve a nossa vida, não há saúde que perdure, não há sabedoria humana que resolva os nossos problemas.
A dura realidade tem que ser esta: temos de nos humilhar diante do Todo-Poderoso.

Jó se Humilha e é Exaltado
Jó, no sofrimento, chegara a dizer que seria melhor não ter nascido; que talvez fosse melhor do que os amigos...
Tivera uma ponta de justificação própria.
Mas agora diante de Deus, ele diz: "Bem sei que tudo podes.
Nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido. Quem é aquele, dizes tu, que, sem conhecimento encobre o conselho? Por isso falei do que não entendia, coisas que para mim eram maravilhosas e que eu não compreendia. Escuta-me, pois, e eu te perguntarei, e tu ensina-me. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos, por isso me abomino, e me arrependo, no pó e na cinza".
E quando Jó reconhece o que é o homem, a sua insignificância, a sua nulidade, o seu pecado, e se coloca definitivamente nas mãos de Deus, é que começa a orar pelos seus amigos.
Ele perdera todo o contexto humano possível. Mas não perdera o seu contato com Deus. Estava orando pelos seus amigos. Deus transformou o cativeiro de Jó em nova prosperidade.
Quando o homem se humilha diante de Deus, Este pode exaltá-lo. Deus exalta o homem apenas como instrumento Seu.
Foi o que Deus fez a Jó. O drama da vida, em Deus, tem um epílogo feliz.

Versículo para decorar: Jó 19.25

JÓ – Conheça a sua Bíblia – Editado    (Júlio Andrade Ferreira)